A falta do debate deixa a eleição pobre
Os preciosos minutos do debate da Band Bahia conseguiram nos passar, como cidadão e eleitor, o tom de preparação daqueles que querem sentar na cadeira hoje comandada pelo governador Rui Costa (PT). A emissora, apesar da ausência de ACM Neto (UB), líder das pesquisas, fez valer a sua tradição e deixou registrado na história do pleito de 2022 o confronto saudável de ideias.
Várias são as ponderações aos candidatos João Roma (PL), Jerônimo Rodrigues (PT) e Kleber Rosa (PSOL) que participaram do ato no primeiro fim de semana de agosto. Das mais diversas, ressalta-se o esquecimento de colocar na mesa propostas e soluções para a Bahia, pois frisaram suas falas em Salvador, como se a gente fosse eleger em outubro próximo o chefe do Palácio Thomé de Souza.
Na última semana, tivemos a notícia do cancelamento do debate da TV ALBA, que tinha a pretensão de reunir um pool de emissoras legislativas e públicas. A Record Bahia confirmou só sabatina e a TV Aratu nem chegou a cogitar debate no primeiro turno, mantendo uma ideia de só fazer a atração em um eventual segundo turno. A TVE Bahia pretende fazer o encontro no fim de agosto. Outros veículos, pelo acompanhado, não têm se alvoroçado para tanto.
ACM Neto, mesmo não tendo ido à Band, sob alegação de agenda cheia (balela), não confirmou presença nos próximos, à exceção do debate da TV Bahia, mantido para o final de setembro, até então. Ele foi apontado como fujão por seus adversários. Algo já esperado. No cenário nacional vemos dois fujões na corrida presidencial: Lula (PT) e Bolsonaro (PL) também não confirmam participações, mesmo após formação do pool.
Concordo com um projeto de lei do senador sergipano Alessandro Vieira (PSDB). Nele consta que candidatos a presidente, governador e prefeito de cidade com mais 200 mil habitantes poderão ser obrigados a participar de debates nas emissoras de rádio e televisão. O senador defende que os debates são importantes para garantir um processo eleitoral transparente e igualitário.
Conforme texto no site do Senado, a obrigatoriedade será para os candidatos que tenham, no mínimo, 5% das intenções de voto nas pesquisas eleitorais. O não comparecimento do candidato aos debates poderá gerar multa de R$ 50 mil, além de outras penalidades, como o cancelamento do tempo de dez propagandas diárias do partido. Também está prevista a devolução, ao Tesouro Nacional, de recursos do candidato dentro do Fundo Eleitoral. Segundo o projeto, a Justiça Eleitoral vai regulamentar a matéria. Medidas certeiras.
Um debate depreende tempo, dinheiro e mão de obra especializada, nem sempre o retorno de audiência ou comercial é garantido, mas o compromisso perante ao estado democrático de direito e o prestígio jornalístico são fundamentais. Conseguimos identificar o candidato fora da sua zona de conforto. Muito além das confirmações ou não dos postulantes, as televisões abertas possuem uma penetração massiva considerável. As últimas pesquisas Genial/Quaest mostram que o eleitorado da Bahia costuma consumir mais noticiário político pela TV. São concessões públicas de telecomunicação e deveriam cumprir esse papel cidadão, independente.
Uma eleição sem debate se torna uma eleição pobre. A não realização acaba por fazer, mesmo que indiretamente, tática eleitoral que beneficia aquele candidato que tem medo do confronto ou aquele que já se fez conhecido do grande público até antes da campanha oficial. Por mais debates, por mais democracia!